20080604

Desinteresse






Há algo que me incomoda tanto. “Dói-me a testa”, digo desinteressada. A testa não me dói, nem os pés, nem os braços, nem a pernas me iriam doer por mais que corresse. A testa, as pernas, os braços… são os membros que culpo por estar viva. A desculpa mais esfarrapada para justificar uma tamanha falta de interesse.
O desinteresse começou desde sempre a preencher o meu rasto. Sentia-me sempre engripada, com uma vontade de ficar quieta a olhar para o ar. Todos os dias me sentia assim, doente, infectada por uma epidemia que parecia ter nascido comigo.
“Está sol, está calor, há uma praia lá em baixo. Tenho mesmo que me levantar? Acho que não, sinto-me doente” pensava eu no auge das férias de verão. Então foi que num dia de verão, sem febre ou hipótese de estar doente que olhei para trás. Decidi olhar o meu rasto, e verifiquei que era culpa do desinteresse que me perseguia, que se mantinha agarrado á minha sombra por mais que eu o tentasse afastar.
Tentei tudo, televisões, chás, dar saltos, sorrir, viajar, sonhar… tentei tanto. Mas nunca consegui fazer desaparecer o chato do desinteresse.
O estúpido do desinteresse. O cabrão que deixa tudo tão indiferente. Esse tal invasor que me deixou tão pouco interessada em mim.
Só tenho pena que o desinteresse me faça perder tanto: que me roube o nascer do sol e o teu sorriso.