20091228

O sonho de Domingo à tarde

Ninguém diria que aquela frase fora escrita por alguém que quisesse vandalizar o património. Já tinha visto frases "dele" escritas noutros cantos, noutros muros e noutras paredes, mas desta vez, não sei bem porquê, tinha que descobrir quem era aquela pessoa que andava a escrever por todos os lados.
Decidi então: "Vou escrever a frase aqui num papelinho e mais logo pesquiso de onde é que isto vem...". Nem mais nem menos... foi o que fiz.
Aos trambolhos dentro do carro sonhava com uma grande história envolta em mistério, em que eu procurava o escritor desconhecido e depois de saber a sua verdadeira identidade, entraria em contacto com ele, tornando-me a mim num mistério. Talvez, só depois, de já o ter martirizado o suficiente, iria revelar quem eu realmente era.
No meio da plena fantasia, confiante de que "...sim! Agora é que é!", pus-me em frente do computador, pronta a escrever a frase mistificada pela minha cabeça. Escrevi. "Está escrito. Agora carrega no enter...".
Lá surgiram um monte de balelas que não me interessavam para nada... blogs e mais blogs... todos sem a frase que eu queria ler. Até parecia que o escritor estava morto...

E foi assim que acabou o grande sonho de Domingo à tarde.

20091119

"Apetece-me tanto abraçar-te..."

Já não sei quantas vezes disse ou pensei esta frase hoje...



20091009

Arrepio

Arrepio!
Foi tão repentino.
Arrepio!
Tardio ou vespertino.

Arrepios,
nos sonhos
e nos sons.
Arrepios,
nos sós,
nos maus e nos bons.

Arrepio,
arrepias,
é universal,
arrepiamos incessantemente,
arrepiamos todos
como qualquer animal.

O homem que um dia amou

Enquanto o sol se punha
por detrás das colinas,
tu continuavas pelas linhas
a que a nossa casa se opunha.

Eu olhava,
mas não corria.
Eu chorava,
mas não me apercebia,
que foste
e não voltarás um dia.

O sol contigo foi,
ficou a noite escura
morta-viva e nua,
assassina da manhã pura.

Nada sei,
nada sou.
E o que ficou...
só entranhas supérfluas
do homem que um dia amou.

A Memória Ideal

Como um impulso incontrolável eu quero marcar um momento. Sem perceber fico assim: enlouquecida pelo medo de deixar no vazio a memória de um momento precioso. Quero tornar o acontecimento numa lembrança indesquecivel, misteriosa, invulgar e original, algo que possa partilhar com alguém ou comigo própria. No fundo é criar algo que me reconforte nos momentos solitários, tal como se cria um fundo monetário para uma situação mais complicada na nossa vida, pois nunca se sabe quando pode acontecer algo do género.
Sonho com o momento em que me recordo da própria lembrança que quero criar. Será um momento fantástico à beira mar, a luz do sol bate-me no rosto e a temperatura é agradavelmente primaveril. Esse futuro que sabe tão bem de uma forma doce e suave embala-me na segurança de uma memória perfeita.
Então é isto que eu quero: uma memória para me embalar. "Sim, é isso que queres." afirma sarcásticamente o meu cérebro. Até ele sabe que é impossivel. Nem todas as memórias são doces e harmoniozas. A maior parte delas metem momentos humilhantes, parvos, onde entram medos e horrores que escondemos desde crianças.
Não conseguimos criar as nossas próprias memórias ideais, porque para além de que não somos nós que controlamos os momentos, não saberia bem uma memória criada através de um momento planeado. As memórias bestiais que nos habitam o ser, se é que alguma vez teremos a sorte de as ter e preservar, são raras e só sabem bem quando são concebidas a partir de um momento inesperado e emocionantemente casual.

20091004

O que nos separa

Sem querer,
ollho o que fazes.

O que nos separa?
Talvez um metro e meio
de distância
ou um muro de cimento psicológico.

20090920

Lua


Neste mundo,
em que tudo decai,
num sopro profundo,
eu,
tu,
nós,
esperamos o sol nocturno,
que é a lua
despida
que nos atrai.

E porque a esperamos?
Louvamos a sua misticidade,
banhada pelo escuro,
assim esquecemos a cidade
e todo o seu murmúrio.

20090912

O que te faço

Amar sem ter medo,
abraçar-te no segredo,
é o que faço Adonis,
reinventar um sentimento
que se perdeu num enredo.

20090905

Demência

Estava escuro no quarto, só se faziam ver as horas no despertador da mesinha-de-cabeceira, num tom vermelho vivo de sangue. Já eram duas da manhã. Eu estava há umas três horas a tentar adormecer e nem com toda aquela negrura o sono se notava e na manhã seguinte tinha que me levantar às sete em ponto.
"Vou ler. Ou isso ou bater com a cabeça na parede para adormecer de vez." pensei.
Lá liguei a luz do candeeiro. Adoro o meu candeeiro da mesinha-de-cabeceira. Primeiro porque comprei-o especialmente com a forma de candeeiro de pé para poder ler deitada na cama e depois porque o comprei com o meu dinheiro.
Dispus as almofadas de forma a poder encostar-me a elas. "Vou ficar partida ao meio", condição inevitável, pois não tinha uma almofada triangular que tanto desejo para me encostar sem consequências desastrosas para a minha coluna vertebral. Peguei no Sherlock Holmes, nem gosto muito de policiais, mas o raio da personagem é interessante, inteligente e misteriosa, daquele tipo de homens por quem até me podia apaixonar.
Enquanto lia, não podia deixar de notar que alguma coisa estava errada com o meu quarto. Seria algum móvel fora do sítio, uma porta ou gaveta aberta? Não.
"psst..." Ouvi.
Numa fracção de segundos os meus olhos iam saltando das órbitas quando vi um bocado de uma cabeça a espreitar pela porta do meu armário. Lembrei-me logo do tempo em que fechava a porta do armário porque tinha medo que saíssem de lá coisas de dentro de noite. Parece que a devia ter fechado à chave mais vezes.
Ali estava, um homem idoso, meio desalinhado a sair do meu armário às duas e tal da manhã.
"Não tenhas medo, que eu só vim aqui dizer-te uma coisa: os olhares também sorriem".
Sem mais nem menos, eu ainda estava aterrorizadamente encostada à parede agarrada aos lençóis, o homem correu para a janela, abriu-a e atirou-se. Corri, rapidamente para a minha janela do quarto aberta e olhei: o idoso tinha desaparecido.
"Estou louca". Fechei a janela. Pensei que talvez a minha depressão tivesse ido tão longe que já tinha alucinações. Deitei-me.
"Definitivamente, estou louca" e adormeci.

20090831

Instantes

Se eu fosse um momento,
seria o minuto,
em que matas o tormento,
em que nasce o sentimento
num tumulto.

E esse momento seria eu,
a minha vida em segundos,
e tu serias meu,
amparado pelo tempo,
entre dois diferentes mundos.

20090830

Romeu

Deitada na areia
recordo-te.

O teu olhar vago
que me estonteia,
leva-me para longe
até que me perco.

Adoro-te
à luz média do luar,
no teu mistico vagar,
invejo-te.

Quem és tu?
Um Romeu perdido,
ou um simples homem esquecido?

20090818

Transição

Que fazer agora,
que tudo acabou?
Esquecer as tuas mãos,
e o que de ti ficou?

Com que sonhar agora?
Com memórias interditas,
ilusões desvanecidas
de batalhas perdidas?

Que ver agora?
A paisagem tranquila,
que se avizinha pacifica,
longe da realidade da vida.

20090811

Voltei

"No Verão a areia é da praia é mais quente, sabe melhor sentir a brisa marítima, apetece ser pachorrento à tarde e nunca apetece que a estação acabe."

Eu cá já tenho saudades do Inverno, das botas, dos casacos, dos dias frios, das minhas mantas e da minha boina. Só sei sonhar com o sol brilhante nas manhãs de Inverno de Dezembro. Mas ainda me faltam umas semanas de férias e um quanto tempo para chegar o Inverno.

Apesar de contrariada, vou tentar aproveitar o melhor do calor abrasador.

20090723

Dona Guida

Lá estava Dona Guida sentada, noutra manhã solarenga de Julho, à porta de sua casa. A casa era pequenina e tudo nela era pequenino: as portas, as janelas, as paredes, as ombreiras e o tecto era muito baixinho. Dona Guida, sentava-se sempre de manhã no degrau da porta da frente da casa.
Naquela manhã passei pela Dona Guida e como sempre dei-lhe os bons dias.
"Ai filha, chegou o meu Ernesto da Guerra!" exclamou Dona Guida desalinhada e com a sua bata floral a desviar a atenção das rugas vincadas do rosto.
" Que bom Dona Guida, que bom... Felicidades" disse-lhe eu e continuei rua fora.
Ernesto, o quarto filho de Dona Guida, morrera na Guerra do Ultramar, já há uns bons trinta e tal anos. Todos os dias, lá estava Dona Guida feliz, porque o Ernesto chegara do Ultramar. Que mentira tão doce inventara Dona Guida, para encontrar algum consolo. No inicio talvez tenha sido apenas um sonho que mais tarde tenha sido transposto para a realidade do seu dia-a-dia. Mas não podemos culpar a Dona Guida, esta mentira já é a sua vida vivida longe dos seus três outros filhos. Que vida solitária, no entanto tão doce e restrita tem a Dona Guida que diz que vem aí o Ernesto, mas nunca chega a vê-lo.
"Não sei que pense. Não sei que diga. Estou de férias."

Alguém da minha familia o disse e não discordo, por isso mesmo é que agora estando a estas horas da noite a escrever, sem pensar em ler o meu Saramago, vou dizer também o que não é mentira: deviam haver mais museus grátis em Portugal e sem ser só aos domingos.

20090715

Ventos da Lagoa

Vento que arrasta as mágoas,
atinge a minha pele,
leva, livra-me as lágrimas,
que já caem no papel.

Ao passar, diz ao mar,
que eu estou pronta,
espero para ele me levar,
daqui para outra ponta.

Sinto a raiva, a paz e o furor,
tudo ao mesmo tempo,
trás o vento
no seu esplendor.

O comboio das 19:07

A Lisboa das 19 horas, é uma Lisboa de estação de metro, comboio e vias rápidas. Toda a gente se dirige para o mesmo sítio: casa.
Apanhei o comboio das 19:07, em Entrecampos, para Meleças. Na plataforma, estava um mar de gente apinhado e todos, como que ansiosos, olhavam para o seu lado esquerdo, em busca da frente do seu transporte. A senhora da CP, que deve ser esbelta e bem maquilhada, deduzo eu pela sua bela voz, anunciou a chegada do comboio: "Atenção senhores passageiros: o comboio sub-urbano CP Lisboa com precedência de Roma-Areeiro e com destino a Mira Sintra - Meleças, vai entrar na linha número 2. Obrigada pela vossa atenção. À entrada para os comboios tenha atenção às portas e à plataforma." Entra o comboio pela estação a dentro. Os passageiros lá abrem as portas, agora com uns botões accionados pelo toque, e entram. O comboio está cheio. Eu tento entrar a tempo de arranjar um lugar para ler o meu livro do Saramago, mas aparecem uns quantos furões rápidos que atingem os acentos antes que o diabo esfregue um olho.
Passam as estações e depois de já ter dado uma boa pisadela numa senhora que estava, tal como eu em pé, atrás de mim e de sandálias, chegamos à estação da Amadora. A bonita estação já com um verde, que antes brilhante, agora é baço e meio viscoso apresenta-se como qualquer outra estação da Linha de Sintra: não se percebe se está suja, ou se já foi construída assim. Quando chega a altura dos passageiros entrarem na carruagem, surge uma senhora idosa, com o cabelo desgrenhado, vestida de preto, cara tresloucada e com a língua meia de fora. Ao mesmo tempo, entra uma senhora de meia idade, vinda com com certeza do seu local de trabalho. A senhora idosa vislumbra um lugar livre que está virado na direcção do movimento do comboio. Insanamente rápida a senhora idosa faz uma ultrapassagem brusca e correndo alcança o lugar que pretendia. A senhora de meia idade senta-se à sua frente, meia aparvalhada.
"Ai, é que eu não consigo ir no comboio se não for virada para a frente." disse a senhora idosa meia sorridente, justificando a sua corrida e ultrapassagem desnecessária.
A senhora de meia idade, olha-a como quem não quer saber. "Só quero chegar a casa..." deve ter pensado.
Com cara de louca a senhora idosa abre a mala e começa freneticamente à procura de algo. Encontra o telémovel e telefona a uma tal de Júlia. "Oh Júlia! Eu deixei a chave na porta?" perguntou.
Mais uma senhora idosa que se esquece das chaves na porta, tal como mais uma senhora idosa que corre rapidamente para o lugar que mais lhe convém. Talvez bastava pedir à senhora de meia idade para trocar de lugares. Mas nunca se sabe, e por isso mesmo é que esta senhora idosa quis correr em vez de esperar pela simpatia de outra pessoa.

20090711

Rita

A Rita entrou assim na minha vida: de repente.

Um dia acordei em casa da Avó Arlete e lá estava um bebé novo, deitado ao pé de mim, com uns olhos gigantes e sorridentes, seis meses mais novo que eu.

"Quem é esta?" pensei eu, se é que já conseguia articular algum pensamento... um bebé de 36 meses já pensa qualquer coisa.

Ela, alí, há espera que eu, a sua prima mais velha, desse o primeiro passo, olhou-me e começou a aproximar as suas mãos rechonchudas da minha cara. Tocou-me, riu-se.

Foi nesse dia que começou tudo: as brincadeiras, as lutas, as disputas pela comida e pelos triciclos, que acabou comigo a ficar com o mais pequeno e mais feiozo. Mas, acho que na realidade nem me importava.

A Rita. A Rita assistiu a tudo, aos choros, às mijadelas nas cuecas provocadas por ela, às tardes quentes de verão a correr no quintal, às explorações do quintal das vizinhas e principalmente aos ralhetes achinelados da avó.

Agora, quase todos os dias gozamos uma com a outra e inevitavelmente continuamos com o mesmo jeito de criança que tínhamos no primeiro dia em que nos conhecemos.

20090707

Enganos,
Sonhos,
Suposições,
Momentos,
Esquecimentos...

"Olá, sou eu. Vim hoje porque me esqueci de te dizer que te amo."

20090601

Livrinho preto pequenino

Hoje acabei a minha primeira Moleskine.

Que livrinho preto tão pequenino e maneirinho que ela é. Não me apetece largá-la ali na estante e substitui-la por outra nova, porque para além de ter dado trabalho a preenchê-la, ela tornou-se quase numa presença constante no dia-a-dia. Levou tantas vezes com as minhas depressões e momentos de raiva que não sei como ainda está inteira. Tão única que ela é, esborratada com os seus rasgões de lado e com a fitinha roxa, meia desfeita no fundo, para marcar as páginas. Mais importante que isso, só ela conhece todos os textos, poemas e desenhos que mais ninguém deve ver.
Tal como eu ela é tão pequenina, com uma capa tão vulgar, mas cheia de ideias e sonhos que um dia há-de concretizar.
Agora, arrumadinha e sossegadinha na cómoda do quarto está ela inesquecível por ser a primeira.

P.S : Obrigada Silvia por me teres oferecido e iniciado no culto às Moleskines.

20090531

Paz inquieta

Fazemos o que nos apetece,
cometemos erros sem pressas,
esperamos, até que o mundo esquece,
as nossas desavenças.

Pomos para trás
aquilo que nunca foi resolvido,
pensamos ficar em paz,
mas de espírito enegrecido.

No final,
consumidos,
lembramo-nos que somos apenas nós,
pobres sobreviventes iludidos.

20090527

Unhas vermelhas

Unhas vermelhas de sangue,
arranham-me de alto a baixo,
furiosas e desdenhosas,
enquanto olhas de soslaio.

Sem pressa esfaqueiam-me,
abrem-me o peito,
impiedosas arrancam,
todo o mau alheio.

Sem jeito,
arrastam o meu corpo,
atiram bocados ensanguentados,
e eu vejo-os atingir as paredes
com os meus olhos atordoados.

Corre, que já nada tens de mim,
foge, que é hoje...
é hoje que eu morro aqui.

20090523

Senhora Dona "Esfregadeira" do Lago dos Cagados

Com a mesma vontade de sempre dirigi-me ao portão. Estava um dia de sol quente e eu como sempre, estava indisposta com toda aquela radiação solar. 
"Oh menino! Oh menino! Chega aqui, não sabes que é para se passar o cartão?"
Naquela manhã, a senhora da portaria, estava com o seu cabelo loiro todo armado com a normal tonelada de laca. Movia a suas mãos finas, com unhas compridas e pintadas com um vernis vermelho sangue, de uma forma ridícula quase que como para se gabar das suas fantásticas unhas minociosamente ornamentadas. A sua bata de um azul marinho, estava bem passada a ferro e livre de qualquer nódoa, como era costume. 
O rapaz, que já lá ia para as aulas, voltou-se em resposta ao grito da senhora da portaria e com cara de quem estava a ficar incomodado, voltou para trás. 
"Desculpa, mas eu não posso deixar-te passar! Se eu chegar aqui sem o meu cartão, nem almoço! Não é agora um aluno, que porque lhe apetece, não passa o cartão!" 
Com pouca vontade de responder, o rapazinho abre a mochila, tira o cartão e lá o passa. Vira costas e continua o seu dia.
A senhora loira da portaria, com os seus cinquenta e tantos anos, sorri vitoriosa com os seus dentes alinhados, voltando-se para o portão para continuar a sua vigia, lembrando-se que dali a uns minutos, lá teria de ir calçar as galochas para esfregar o lago dos cagados, pela segunda vez naquelas duas últimas semanas. 
Eu, depois de passar o cartão, lá entrei na escola e ao ver os meus colegas a entrar para dentro do pavilhão acelerei o passo, caso não fosse alguém pensar em marcar-me uma falta. 

20090512

Chove na cidade

O estuque com infiltrações,
as paredes humedecidas,
os homens mortos com canções,
retratos sangrentos das suas vidas.

As calçadas sujas,
os canteiros devastados,
rios de águas turvas,
onde navegam corações despedaçados.

O ar intoxicante,
o céu tingido de cinzento,
a minha mente asfixiante,
que se deixa levar pelo vento.

A chuva que molha as fachadas,
o meu guarda-chuva torto,
as minhas mãos geladas
e o meu andar silencioso.

O meu olhar que se apaga
no meu corpo cansado,
quer esquecer a mágoa
que se estende neste mundo depravado.

20090417

"Bom dia!" disse eu ao entrar no átrio.
"Hm! Olá. É verdade, já encontraste aquilo?" perguntou ele com uma cara inquiridora.
"Não. Até já procurei debaixo e dentro do colchão..." disse eu desanimada.
"Guardas folhas debaixo do colchão?"
"Só de vez em quando..." e continuei pela porta do laboratório.

20090324

33 segundos de vida

Adonis!
Escrevo sem cabeça
para salvaguardar o coração.
Uma bala perfura-me sem razão,
penso na mesma,
que, és tu belo Adonis,
que vieste matar a solidão.

20090308

eu?

Perguntei de que era eu feita,
alguém disse de matéria.

A matéria grita?
A matéria chora?

Talvez.

20090123

Poema a Ninguém

Fugi do que pensei,
fugi do que sei,
tornei-me em Ninguém
porque não me encontrei.

O que escrevi amarrotei,
pois o mundo que olhei,
era cego e surdo,
apenas da boca fazia uso.

No meio de tamanho absurdo
que tanto presenciei,
como não fugi de tudo,
tentei deixar o poeta que criei.

Depois de tanto que tentei,
caí no chão e gritei:
"Mas se eu não sou poeta,
então o que serei?".