20090920

Lua


Neste mundo,
em que tudo decai,
num sopro profundo,
eu,
tu,
nós,
esperamos o sol nocturno,
que é a lua
despida
que nos atrai.

E porque a esperamos?
Louvamos a sua misticidade,
banhada pelo escuro,
assim esquecemos a cidade
e todo o seu murmúrio.

20090912

O que te faço

Amar sem ter medo,
abraçar-te no segredo,
é o que faço Adonis,
reinventar um sentimento
que se perdeu num enredo.

20090905

Demência

Estava escuro no quarto, só se faziam ver as horas no despertador da mesinha-de-cabeceira, num tom vermelho vivo de sangue. Já eram duas da manhã. Eu estava há umas três horas a tentar adormecer e nem com toda aquela negrura o sono se notava e na manhã seguinte tinha que me levantar às sete em ponto.
"Vou ler. Ou isso ou bater com a cabeça na parede para adormecer de vez." pensei.
Lá liguei a luz do candeeiro. Adoro o meu candeeiro da mesinha-de-cabeceira. Primeiro porque comprei-o especialmente com a forma de candeeiro de pé para poder ler deitada na cama e depois porque o comprei com o meu dinheiro.
Dispus as almofadas de forma a poder encostar-me a elas. "Vou ficar partida ao meio", condição inevitável, pois não tinha uma almofada triangular que tanto desejo para me encostar sem consequências desastrosas para a minha coluna vertebral. Peguei no Sherlock Holmes, nem gosto muito de policiais, mas o raio da personagem é interessante, inteligente e misteriosa, daquele tipo de homens por quem até me podia apaixonar.
Enquanto lia, não podia deixar de notar que alguma coisa estava errada com o meu quarto. Seria algum móvel fora do sítio, uma porta ou gaveta aberta? Não.
"psst..." Ouvi.
Numa fracção de segundos os meus olhos iam saltando das órbitas quando vi um bocado de uma cabeça a espreitar pela porta do meu armário. Lembrei-me logo do tempo em que fechava a porta do armário porque tinha medo que saíssem de lá coisas de dentro de noite. Parece que a devia ter fechado à chave mais vezes.
Ali estava, um homem idoso, meio desalinhado a sair do meu armário às duas e tal da manhã.
"Não tenhas medo, que eu só vim aqui dizer-te uma coisa: os olhares também sorriem".
Sem mais nem menos, eu ainda estava aterrorizadamente encostada à parede agarrada aos lençóis, o homem correu para a janela, abriu-a e atirou-se. Corri, rapidamente para a minha janela do quarto aberta e olhei: o idoso tinha desaparecido.
"Estou louca". Fechei a janela. Pensei que talvez a minha depressão tivesse ido tão longe que já tinha alucinações. Deitei-me.
"Definitivamente, estou louca" e adormeci.