20091009

Arrepio

Arrepio!
Foi tão repentino.
Arrepio!
Tardio ou vespertino.

Arrepios,
nos sonhos
e nos sons.
Arrepios,
nos sós,
nos maus e nos bons.

Arrepio,
arrepias,
é universal,
arrepiamos incessantemente,
arrepiamos todos
como qualquer animal.

O homem que um dia amou

Enquanto o sol se punha
por detrás das colinas,
tu continuavas pelas linhas
a que a nossa casa se opunha.

Eu olhava,
mas não corria.
Eu chorava,
mas não me apercebia,
que foste
e não voltarás um dia.

O sol contigo foi,
ficou a noite escura
morta-viva e nua,
assassina da manhã pura.

Nada sei,
nada sou.
E o que ficou...
só entranhas supérfluas
do homem que um dia amou.

A Memória Ideal

Como um impulso incontrolável eu quero marcar um momento. Sem perceber fico assim: enlouquecida pelo medo de deixar no vazio a memória de um momento precioso. Quero tornar o acontecimento numa lembrança indesquecivel, misteriosa, invulgar e original, algo que possa partilhar com alguém ou comigo própria. No fundo é criar algo que me reconforte nos momentos solitários, tal como se cria um fundo monetário para uma situação mais complicada na nossa vida, pois nunca se sabe quando pode acontecer algo do género.
Sonho com o momento em que me recordo da própria lembrança que quero criar. Será um momento fantástico à beira mar, a luz do sol bate-me no rosto e a temperatura é agradavelmente primaveril. Esse futuro que sabe tão bem de uma forma doce e suave embala-me na segurança de uma memória perfeita.
Então é isto que eu quero: uma memória para me embalar. "Sim, é isso que queres." afirma sarcásticamente o meu cérebro. Até ele sabe que é impossivel. Nem todas as memórias são doces e harmoniozas. A maior parte delas metem momentos humilhantes, parvos, onde entram medos e horrores que escondemos desde crianças.
Não conseguimos criar as nossas próprias memórias ideais, porque para além de que não somos nós que controlamos os momentos, não saberia bem uma memória criada através de um momento planeado. As memórias bestiais que nos habitam o ser, se é que alguma vez teremos a sorte de as ter e preservar, são raras e só sabem bem quando são concebidas a partir de um momento inesperado e emocionantemente casual.

20091004

O que nos separa

Sem querer,
ollho o que fazes.

O que nos separa?
Talvez um metro e meio
de distância
ou um muro de cimento psicológico.