20090723

Dona Guida

Lá estava Dona Guida sentada, noutra manhã solarenga de Julho, à porta de sua casa. A casa era pequenina e tudo nela era pequenino: as portas, as janelas, as paredes, as ombreiras e o tecto era muito baixinho. Dona Guida, sentava-se sempre de manhã no degrau da porta da frente da casa.
Naquela manhã passei pela Dona Guida e como sempre dei-lhe os bons dias.
"Ai filha, chegou o meu Ernesto da Guerra!" exclamou Dona Guida desalinhada e com a sua bata floral a desviar a atenção das rugas vincadas do rosto.
" Que bom Dona Guida, que bom... Felicidades" disse-lhe eu e continuei rua fora.
Ernesto, o quarto filho de Dona Guida, morrera na Guerra do Ultramar, já há uns bons trinta e tal anos. Todos os dias, lá estava Dona Guida feliz, porque o Ernesto chegara do Ultramar. Que mentira tão doce inventara Dona Guida, para encontrar algum consolo. No inicio talvez tenha sido apenas um sonho que mais tarde tenha sido transposto para a realidade do seu dia-a-dia. Mas não podemos culpar a Dona Guida, esta mentira já é a sua vida vivida longe dos seus três outros filhos. Que vida solitária, no entanto tão doce e restrita tem a Dona Guida que diz que vem aí o Ernesto, mas nunca chega a vê-lo.

3 comentários:

Rita disse...

gostei muito deste. *.*

Anónimo disse...

muito giro

Jorge disse...

Também gostei bastante deste!

Continua com estes excelentes textos!!!