20080513

viver a escrever.


O sangue corre-me nas veias ansioso por chegar onde não pode e o meu corpo move-se como uma nota preparada para refazer uma melodia esquecida. Os meus olhos estão fechados. Sozinhos escondem a vontade reprimida de satisfazer um vício. “Foda-se para que é que cortas-te o cabelo?” pergunta a consciência, “Para não ter que o arrancar…” responde a boca.
Então apercebi-me que só queria escrever. Tinha medo que deixasses de me amar por não escrever. Foi por egoísmo necessário ou por vício que não quis parar de escrever. Apenas para não te perder, e ter um motivo sólido para te fazer ficar. Para te fazer perguntar por mim, pela parte mais interessante da existência: a fase de criação. Queria mostrar-te que sabia criar, que apesar da minha permanência num mundo sem sentido, tinha algo com que me preocupar. Tinha, aliás, continuo a achar necessário escrever. Escrever para ti e obrigar-te a ler o que no fundo são as malhas da minha alma.
Por outro lado, achei que no meio da minha constante incerteza, poderia ser esclarecedor escrever. Talvez chega-se a um ponto em que a minha incerteza se transformasse numa certeza. Tinha esperança que a escrita se tornasse numa auto-afirmação do meu pensamento distorcido.
Apesar de não ter concretizado as minhas expectativas, de não ter chegado a uma mínima conclusão, fiquei a conhecer melhor as minhas próprias incertezas. Peço desculpa, de facto cheguei a uma conclusão: a certeza que procurei na escrita encontrava-se sim na essência da vida. No experimentar, sentir e desfrutar. Na possibilidade de entender o que é amar-te.
Foi a partir daqui que percebi que escrever não iria concluir o acto de viver, mas sim a vida me daria motivos para escrever. A escrita é então no fundo um complemento, uma aquisição tardia que a vida nos dá a possibilidade de usufruir. E de facto é verdade, o poeta está acima dos homens, isso só porque um dia também foi homem e ser provido de vida.

2 comentários:

Anónimo disse...

P.S.: às vezes até eu me perco na tua subjectividade.

o que vale é que nao consegues ser mais parva q eu :D *

Anónimo disse...

aliás,

"lá esta".
*