20080411

Bestiário

Chegaste sem avisar e deste-me permissão para criar um sonho. Eu, sem acreditar naquilo que via, deixei o coração bater com o passar do tempo. Imaginava parques e bancos de jardim, que mudavam de espaço, perfumava a casa e oferecia beijos ao ar, que misturavam o seu som com o oxigénio que respiro. Vivia a azáfama dos fluidos sentimentais, trancada num bestiário, rodeada de todos os outros prisioneiros, que esperavam que o destino tomasse conta da sua vida. Cega pela loucura deste sonho, não reconhecia as barreiras de tal prisão, e quando do lado de fora da jaula te vi a passar e percebi que não te podia agarrar entrei em pânico. Gritei, mas tu não ouviste, chorei, mas tu não sentiste as lágrimas que derramava, acenei, mas tu não reparaste. Finalmente, quando te vi contornar a esquina, apercebi-me que não valia apena, eu chorava por quem não me queria e tu estavas preso noutro bestiário, à espera de agarrar uma outra garça livre que se prendesse no teu olhar vago. Mais umas horas da minha vida que passei a pensar em alguém, horas como as outras, mais longas ou mais curtas, que poderiam ser passadas a fumar o charro, a olhar o Tejo, a falar do tempo ou quem sabe a olhar o céu. Só sei que apesar de tudo a desilusão doí e preferia percorrer esta cidade do teu lado e não ter que ver os casais, que felizes vêm o calmo Tejo, o único elemento deste quadro que leva na sua corrente o que sobrou deste sentimento, tumores cancerosos que gelam o meu sangue.

1 comentário:

Anónimo disse...

tu e as tuas utopias de que és invisivel..

plos vistos parece que ele te ouviu, e voltou para tras. e foi das poucas coisas que realmente se orgulha.
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