20080412

Lisboa menina e moça ...


Tão languidamente congestionada estava mais uma vez a Rua da Lapa, num frenesim de carros que ai por volta das sete e tal, a tão bem dita hora de ponta, iam desaparecer. O movimento inestético que confere à cidade de Lisboa um tal abandono nocturno, que apenas deixa reservado a algumas zonas da cidade o gosto de usufruir do desfile de transeuntes por horas que se estendem pela noite dentro. Chamem-lhe o que quiserem, a cultura que já não dita à cidade originalidade nacional e desmotiva um certo valor social e vontade de libertar dentro de cada um que a habita, o despender do bolsinho das moedas em prol da dignidade da arte. Talvez seja até o sussurrar distante das varandas enferrujadas pelo tempo, que gritam a injustiça da velhice e o crime da falta da renovação. São os edifícios outrora esplendorosos, que conservam a sua arquitectura peculiar, deixando no sangue dos que cá estiveram, a vontade de cá voltar. É o fado de uma cidade meia esquecida, reservada aos caprichos de donos de escritórios da periferia insana. “Já não sabem o que é a revista” é capaz de dizer ali a vizinha da Madragoa, que passa os seus dias especada, olhando a rua meia cheia ora meia vazia, moendo a falta de jeito para ocupar as horas vagas e a recordação de uma outra Lisboa menina de que tanto fala. Molhos de rosas e cravos vendidos nas praças varridas pelo vento tardio da Graça, as retrosarias refinadas, que deixaram-se passar pelas lojas de roupa da tanto falada globalização, sozinhas e com freguesia já bem conhecida de há uns tantos anos arrastam-se nas compridas ruas da Baixa conformadas com os dias de melhora que nunca chegarão, uma toda desfiguração da Lisboa menina e moça que deu lugar a uma Lisboa velha e abandonada, esperando pelos próximos que a farão beijar o Tejo e a farão chorar um Fado ao som de uma boa guitarra portuguesa.

3 comentários:

Caos disse...

Eu sinceramente sou um trapalhão a escrever e depois de ler os teus textos até fico com medo de escrever (confesso que à pala disso vacilei) … Gostei de todos os teus textos, mas este foi aquele que me despertou mais interesse não só pelo texto mas também pela foto (já agora, foste tu que tiras-te?).
Obrigado pela tua visita no Pudim Doce.
Tens aqui um valente estaminé.
Espero ver mais textos.
Bjo

Anónimo disse...

Wow :)

Rita disse...

andei paqui a coscuvilhar as novidades do teu blogue e pelas nossas origens quase lisboetas gostei bastante deste texto ^^
* Bj da prima Rita